domingo, 3 de março de 2013

Tem fogo aí? - Capítulo I



Tem fogo aí?
Capítulo I



Sabe o que eu acho engraçado? Críticos. Nunca gostei deles, reclamando de tudo mas no fundo sempre acomodados e complacentes , sem tomar a menor atitude para mudar o que estão criticando. Se sabem tanto, por que não fazem melhor?

Era uma terça-feira como outra qualquer, dia vinte e dois de Fevereiro de dois mil e treze, sete e pouquinho da noite. Eu voltava da casa de um diretor que havia acabado de ler meu texto, um romance brega clichê que se passava no Leblon. Que se foda, talvez fosse adaptado para o cinema e eu realmente precisava daquela grana. Era só chamar o Marcelo Adnet pra fazer alguma ponta que ia dar certo. Já fumei uns com o Adnet na praia, acho que ele iria topar. 

Parei para comer numa lanchonete em Botafogo e continuei dirigindo meu Gol 2005 branco em direção a Laranjeiras, lar doce lar. Antes disso, na Voluntários, ainda teria que presenciar algo que talvez tenha sido o marco radical da minha mudança de atitude e modo de encarar a vida. Bem ali, dobrando a esquina, naquele bar de nome italiano em que eu costumava tomar umas cervejas com batata frita enquanto via UFC (que aliás nem gosto tanto). Lá estava ela. Linda, seus olhos cor de mel, suas covinhas na bochecha, o cabelo Chanel. E um cara. Um mané barbudo alternativo com óculos de armação grossa. A Mari e um cara. Minha namorada. Beijando outro cara.

A vida é irônica: ele era crítico de cinema.

Parei o carro na hora; que se foda buzinas, que se foda hora do rush e o proletariado voltando cinza pra casa, que se foda tudo. Encostei o carro e caminhei vagarosamente em direção aos dois, por um lado com o sangue subindo a cabeça, por outro frio e com desprezo seco pela situação. Assim que me viu, seu rosto se transfigurou em espanto e ela começou a se explicar.

- Artur, ele que... olha... foi só... – Mariana se atropelava nas palavras, mas sinceramente o que quer que ela tenha dito naquele momento eu nunca iria ouvir. Apenas sorri. Não um sorriso feliz, não um sorriso amarelo e sim um daqueles sorrisos que vilões de filmes fazem antes de anunciarem que vão destruir a humanidade. Nem sei como tive aquela porra de reação, achei que iria simplesmente explodir.

- Cara, escuta, então... – o babaca hipster começou a falar algo, mas eu também não conseguia ouvir uma palavra que saía de sua boca. Puxei um cigarro do bolso.

- Foda-se, cara. Tem fogo aí? – O barbudo ficou sem reação, gaguejou um pouco mas no fim das contas pegou um isqueiro. Ascendi calmamente e traguei fundo, enquanto isso Mari me fitava com olhar de desespero e ele esperava meu próximo movimento, com cara de bunda. Devolvi o isqueiro e caminhei em direção ao carro.

- Artur, espera! Isso não foi nada, vamos conversar! – ela me puxou pelo braço, mas eu não conseguia nem encará-la. 

- Mari; ele? É sério? Sério mesmo? Sai daqui... – abri a porta do Gol velho e joguei o cigarro no meio-fio – A propósito... Diogo! – pude ver um sorriso de satisfação no rosto do filho-da-puta enquanto ele se virava – Você é um pela saco, “O Som ao Redor” é uma merda – E arranquei o carro, completamente livre, sem nada a perder. Pela primeira vez em muito tempo.

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