Tem fogo aí?
Capítulo I
Sabe o que eu acho engraçado? Críticos. Nunca gostei deles,
reclamando de tudo mas no fundo sempre acomodados e complacentes , sem tomar a
menor atitude para mudar o que estão criticando. Se sabem tanto, por que não fazem melhor?
Era uma terça-feira como outra qualquer, dia vinte e dois de
Fevereiro de dois mil e treze, sete e pouquinho da noite. Eu voltava da casa de
um diretor que havia acabado de ler meu texto, um romance brega clichê que se passava no Leblon.
Que se foda, talvez fosse adaptado para o cinema e eu realmente precisava
daquela grana. Era só chamar o Marcelo Adnet pra fazer alguma ponta que ia
dar certo. Já fumei uns com o Adnet na praia, acho que ele iria topar.
Parei para comer numa lanchonete em Botafogo e continuei
dirigindo meu Gol 2005 branco em direção a Laranjeiras, lar doce lar. Antes
disso, na Voluntários, ainda teria que presenciar algo que talvez tenha sido
o marco radical da minha mudança de atitude e modo de encarar a vida. Bem ali, dobrando
a esquina, naquele bar de nome italiano em que eu costumava tomar umas cervejas
com batata frita enquanto via UFC (que aliás nem gosto tanto). Lá estava
ela. Linda, seus olhos cor de mel, suas covinhas na bochecha, o cabelo Chanel.
E um cara. Um mané barbudo alternativo com óculos de armação grossa. A Mari e
um cara. Minha namorada. Beijando outro cara.
A vida é irônica: ele era crítico de cinema.
Parei o carro na hora; que se foda buzinas, que se foda hora
do rush e o proletariado voltando cinza pra casa, que se foda tudo. Encostei o
carro e caminhei vagarosamente em direção aos dois, por um lado com o sangue
subindo a cabeça, por outro frio e com desprezo seco pela situação. Assim que me
viu, seu rosto se transfigurou em espanto e ela começou a se explicar.
- Artur, ele que... olha... foi só... – Mariana se
atropelava nas palavras, mas sinceramente o que quer que ela tenha dito naquele
momento eu nunca iria ouvir. Apenas sorri. Não um sorriso feliz, não um sorriso
amarelo e sim um daqueles sorrisos que vilões de filmes fazem antes de
anunciarem que vão destruir a humanidade. Nem sei como tive aquela porra de
reação, achei que iria simplesmente explodir.
- Cara, escuta, então... – o babaca hipster começou a falar
algo, mas eu também não conseguia ouvir uma palavra que saía de sua boca. Puxei
um cigarro do bolso.
- Foda-se, cara. Tem fogo aí? – O barbudo ficou sem reação,
gaguejou um pouco mas no fim das contas pegou um isqueiro. Ascendi calmamente e
traguei fundo, enquanto isso Mari me fitava com olhar de desespero e ele
esperava meu próximo movimento, com cara de bunda. Devolvi o isqueiro e caminhei
em direção ao carro.
- Artur, espera! Isso não foi nada, vamos conversar! – ela
me puxou pelo braço, mas eu não conseguia nem encará-la.
- Mari; ele? É sério? Sério mesmo? Sai daqui... – abri a
porta do Gol velho e joguei o cigarro no meio-fio – A propósito... Diogo! –
pude ver um sorriso de satisfação no rosto do filho-da-puta enquanto ele se
virava – Você é um pela saco, “O Som ao Redor” é uma merda – E arranquei o
carro, completamente livre, sem nada a perder. Pela primeira vez em muito
tempo.
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