Índice:
Capítulo I
Capítulo II
“Foi só um beijo”
“Foi só um beijo”
...
Já estava cansado daquela frase, mensagens na caixa postal,
facebook, amigas dela me enchendo o saco, até mesmo alguns amigos meus. Nunca
achei que ela fosse A garota da minha vida, talvez bem no início. É fato que
rolava uma química, mas não importava. No fundo mesmo eu nem acreditava nessa
utopia de mulher perfeita, alma gêmea e etc.
Mas a Mari até que merece um capítulo nessa história. Nos
conhecemos há dois anos: Mariana Magalhães, tinha dezoito na época. Linda, um
metro e sessenta, pele branca, magra. Olhos cor de mel, covinhas na bochecha,
cabelos castanhos mas ainda não Chanel. Caloura de cinema da UFF. No ponto.
Eu era um dos muitos Artur Moraes da vida; vinte e dois
anos, altura mediana, magro de ruim, cabelos quase no ombro, olhos quase sempre
vermelhos. Quarto período de Letras na UFRJ.
Quando nos conhecemos havia acabado de começar a chover
bastante, acho que era Março porque ela cantava “Águas de Março” em uma rodinha
de vagabundos na Farani, embaixo de uma tenda; tinha violão, flauta transversa
e tudo. Ou então foi nas férias, aquela chuva tinha muita cara de chuva de
verão. Não lembro ao certo.
Passei do seu lado, encharcado, baseado na mão.
- Menino, vem cá, sai da chuva, vai melhor o beck! – era uma
voz carioca arrastada, rouca do jeito certo, voz de mulher madura.
- Ih, fechou. Não para de cantar não, sua voz é linda. Vou
rodar esse baseado aqui! – eu já estava bem alto, tinha acabado de sair do
aniversário de um camarada num bar ali perto, só fui até a praça fumar mesmo.
Não esperava que a chuva cairia bem naquela hora, muito menos que aquela chuva
seria uma das melhores coisas que já aconteceu na minha vida. Começamos a
conversar bastante, o que era engraçado porque ela era a única menina da roda e
acabava se tornando o centro das atenções de toda aquela testosterona. E na
verdade eu só comecei a me sentir atraído depois de uns quinze minutos, mais
precisamente quando a vi sorrir e reparei nas covinhas da bochecha pela
primeira vez. Foi aí que o sentido aranha apitou.
No final, quando todos se
dispersaram, apenas eu e ela íamos andando para a mesma rua, a Pinheiro
Machado.
Tem gente que acredita em
destino. Eu chamo de cagada cósmica mesmo.
Mas não foi naquela noite que a
gente se beijou, acho que eu estava chapado demais. Ainda nos encontramos algumas
vezes na praia e nosso primeiro beijo só foi acontecer alguns meses depois, em
uma festa, ao som de Novos Baianos. É, eu sei, bem clichê, como qualquer outra
ficada. Fomos para a cama depois da quarta vez, na minha casa. Depois casa
dela. Minha casa de novo. Banheiro do Campus, minha casa. Casa dela, depósito
do prédio do Marquinhos, banheiro do Cinemark, minha casa... e depois não sabem
porque eu amo calouras.
Depois o de sempre: mudança de
status no Facebook, almoço no Outback, engordar, gastar metade do salário em
conta de celular, amigos reclamando, raspar o saco toda semana...
Durante um ano e três meses rolou
tudo aquilo. Eu realmente amei a Mari, mas sempre preparado para o momento em
que acabaria. Pra ser sincero, ele até demorou a chegar. Só não precisava ser
daquele jeito, um beijo no meio da rua com o mané do Diogo. Ah, mas deixa pra
lá... é como Caetano já dizia:
Cada um sabe a dor e a delícia de
ser o que é.
E eu agora era um homem livre.
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