domingo, 10 de março de 2013

Tem fogo aí? - Capítulo II


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Capítulo I



  
Capítulo II




“Foi só um beijo”
“Foi só um beijo”
...

Já estava cansado daquela frase, mensagens na caixa postal, facebook, amigas dela me enchendo o saco, até mesmo alguns amigos meus. Nunca achei que ela fosse A garota da minha vida, talvez bem no início. É fato que rolava uma química, mas não importava. No fundo mesmo eu nem acreditava nessa utopia de mulher perfeita, alma gêmea e etc.

Mas a Mari até que merece um capítulo nessa história. Nos conhecemos há dois anos: Mariana Magalhães, tinha dezoito na época. Linda, um metro e sessenta, pele branca, magra. Olhos cor de mel, covinhas na bochecha, cabelos castanhos mas ainda não Chanel. Caloura de cinema da UFF. No ponto.

Eu era um dos muitos Artur Moraes da vida; vinte e dois anos, altura mediana, magro de ruim, cabelos quase no ombro, olhos quase sempre vermelhos. Quarto período de Letras na UFRJ.

Quando nos conhecemos havia acabado de começar a chover bastante, acho que era Março porque ela cantava “Águas de Março” em uma rodinha de vagabundos na Farani, embaixo de uma tenda; tinha violão, flauta transversa e tudo. Ou então foi nas férias, aquela chuva tinha muita cara de chuva de verão. Não lembro ao certo.

Passei do seu lado, encharcado, baseado na mão.

- Menino, vem cá, sai da chuva, vai melhor o beck! – era uma voz carioca arrastada, rouca do jeito certo, voz de mulher madura.

- Ih, fechou. Não para de cantar não, sua voz é linda. Vou rodar esse baseado aqui! – eu já estava bem alto, tinha acabado de sair do aniversário de um camarada num bar ali perto, só fui até a praça fumar mesmo. Não esperava que a chuva cairia bem naquela hora, muito menos que aquela chuva seria uma das melhores coisas que já aconteceu na minha vida. Começamos a conversar bastante, o que era engraçado porque ela era a única menina da roda e acabava se tornando o centro das atenções de toda aquela testosterona. E na verdade eu só comecei a me sentir atraído depois de uns quinze minutos, mais precisamente quando a vi sorrir e reparei nas covinhas da bochecha pela primeira vez. Foi aí que o sentido aranha apitou.

No final, quando todos se dispersaram, apenas eu e ela íamos andando para a mesma rua, a Pinheiro Machado.

Tem gente que acredita em destino. Eu chamo de cagada cósmica mesmo.

Mas não foi naquela noite que a gente se beijou, acho que eu estava chapado demais. Ainda nos encontramos algumas vezes na praia e nosso primeiro beijo só foi acontecer alguns meses depois, em uma festa, ao som de Novos Baianos. É, eu sei, bem clichê, como qualquer outra ficada. Fomos para a cama depois da quarta vez, na minha casa. Depois casa dela. Minha casa de novo. Banheiro do Campus, minha casa. Casa dela, depósito do prédio do Marquinhos, banheiro do Cinemark, minha casa... e depois não sabem porque eu amo calouras.

Depois o de sempre: mudança de status no Facebook, almoço no Outback, engordar, gastar metade do salário em conta de celular, amigos reclamando, raspar o saco toda semana...

Durante um ano e três meses rolou tudo aquilo. Eu realmente amei a Mari, mas sempre preparado para o momento em que acabaria. Pra ser sincero, ele até demorou a chegar. Só não precisava ser daquele jeito, um beijo no meio da rua com o mané do Diogo. Ah, mas deixa pra lá... é como Caetano já dizia:

Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é.
E eu agora era um homem livre.

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