domingo, 2 de junho de 2013

Alice Through the Black-Dress - Capítulo 1



Talvez não seja mais assim tão fácil falar sobre o que aconteceu. Como o prazer de ouvir aquele barulho de uma latinha de coca-cola abrindo numa manhã de terça-feira, dar um gole e perceber que acabou de jogar três reais fora. Alguém quer o resto dessa coca? Porque eu não. A eterna busca pelo prazer que nunca chega de verdade, e só vamos perceber o quão inútil somos quando já é tarde demais; ou não... ou simplesmente assumimos desde cedo nossa condição fugaz e patética, temos o cinismo necessário pra tomar um porre no meio de uma guerra e acender um cigarro do maço do bolso de um cadáver qualquer.

Foi isso que eu disse praquela menina. Mas não funcionou, eu acho. Ela era burra demais.

Então encostei num carro, um pouco cansado demais pra pensar em fazer qualquer outra coisa além de eu mesmo acender um cigarro e esperar que a noite traga um acaso mais interessante do que meninas de all star vermelho e caras tocando Nirvana num violão arrebentado. Eu odeio hipsters, odeio essa juventude que acha que representa algo além de adolescentes mimados que se acham especiais porque tem DDA e experimentaram pó aos quinze. Mas no final das contas eu tinha que entrar na brincadeira. Fui até o banheiro do bar e tirei um ziplock da carteira; espalhei a carreira na pia seca e enrolei uma nota de cinco - que aliás era tudo que eu tinha.


Foi aí que as coisas começaram a ficar estranhas. Um coelho branco engomado de gravata-borboleta saiu da privada todo molhado, segurando um relógio de bolso. Antes que eu pudesse perguntar que porra era aquela, ele me perguntou se podia cheirar também.

- Tranquilo, cara. - respondi, com a maior naturalidade.

- Obrigado. Eu vou ser rápido, tô atrasado.

- Atrasado pra quê?

- Na verdade eu tinha que ter ido pro banheiro feminino, mas errei o toilete e vi que você tava aqui.

- Fazer o que lá? Deixam coelhos entrar no banheiro feminino?

- Eles quem? Ninguém me vê entrando pela privada. Tem uma menina que eu preciso encontrar lá. Mas acho que ela vai demorar, ela tá com dor de barriga. Nem é bom entrar lá essa hora, rs.

Eu pensei em rir mas não ri - Uma menina ou uma coelha?

- Uma menina mesmo, mas é minha amiga, eu não vou pegar ela.

- Coelhos pegam meninas?

- Não, cara, por isso que eu não vou pegar ela.

- Ela é bonita? Qual o nome dela? - perguntei, depois do primeiro teco.

- Alice. Ela é bonita sim, mas acho que você não consegue. - respondeu o coelho, com o focinho todo branco.

Aí sim eu ri - Por que você acha isso? Você é um coelho que sai da privada, quem você deve conseguir pegar?

- Eu como coelhas, ué. E eu meto mais rápido do que você jamais vai conseguir meter, pode ter certeza.

Aí sim eu ri, pra caralho. O coelho até que era sagaz.

- Ok então. Mas e essa Alice aí? Você vai me apresentar ou o que?

- Você quer conhecer a Alice?

- Quero, porra. E depois de olhar esse seu focinho sujo no espelho você vai perceber que tá me devendo uma.

O coelho não tinha argumentos contra aquilo, ele realmente estava me devendo uma - Você venceu. Me segue. - disse ele.

- Como assim? Me segue pra onde?

Antes que eu pudesse perceber, o coelho havia pulado de volta na privada. Hesitei por um momento. "Mas já tô conversando com um coelho falante cheirador, o que eu tenho a perder?" Em poucos segundos, estava sendo sugado pela descarga mais estranha que eu já vi na minha vida.

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